domingo, 13 de dezembro de 2009

Quinta-feira. Tarde. Galpão de uma Igreja.
Mesas, muitas mesas. Algumas juntas, outras separadas. Cada uma com sua toalha florida. Pareciam losangos, pela forma como foram colocadas.
Na frente de cada cadeira, em cima da mesa, uma xícara e seu respectivo pires.

- Tem a hora em que elas servem o chá! É de sete ervas! - orgulha-se a vó, que todo ano bate o cartão no "Chá Bingo de Natal".

A primeira sensação quando se chega num lugar desses, com seus 20 e poucos anos, é de que se é um bebê. A outra pessoa tão nova quanto você, ali, deve ter uns 60.

Mas a sensação passa rápido. Volta algumas vezes. E torna a passar.

- Gente, não peçam pra trocar o presente. Vocês devem agradecer por ter ganho e não querer trocar! Se não gostarem, doem para alguma instituição!

O aviso, com cara de bronca, dá o pontapé inicial da tarde.

São quatro rodadas. O convite custou dez reais e elas estavam garantidas ali. Duram a tarde toda. Nos intervalos de cada uma, tem nove jogos. Três cartelas, três reais. Mas quando o prêmio é a mesa e tudo o que tem em cima dela - pratos, copos, panetone... -, o preço sobe. Cinco reais um jogo.

Duas e meia. Cartela A. Começa a primeira rodada. G 56. B 12. I 38...

- Deu aqui!

E é feita a primeira quina.
A segunda.
A terceira.
E quando a senhora que comprou três cartelas para a rodada - e as grudou com fita crepe na prancheta - se levanta para buscar a quarta cesta com presentes, surgem os primeiros comentários críticos.

- Ah, mas é brincadeira, viu? Não dá nem vontade de jogar mais. Não é possível!

Passa o chá. As senhoras servem. Tem com açúcar e tem sem. O adoçante vem junto, caso queiram colocar. Na hora de mirar a xícara, mais cai fora do que dentro da xícara. E são boas as sete ervas!

Cartela B, C, D.

- Aqui!

A sexta cesta. E muitas canetas são jogadas na mesa.

Para quem não conseguiu garantir uma quininha ou uma cartela cheia, só resta o lixão. Nome e telefone no verso de cada cartela, todas numa caixa de papelão e, aí, o sorteio. Mais expectativa, mais frustração.

Gente que sai levando muito. Gente que sai levando nada.
Bem a cara do Brasil.
A diferença é que, no Bingo, tudo é culpa da sorte.

2 comentários:

Gláucia Santiago disse...

Mais que fase hem??? Indo no bingo das nonas da igreja! Olha, sei que tem hs que é dificil, não tem um cristão pra ligar e ir num bar tomar uma, ou pegar uma balada... to aqui assim, mas ainda não cheguei ao ponto do bingo! E pior, nem pra ganhar um panetone né?! rsrs
Saudades mulher e manda notícias...
bjo enorme

Rafael Melo disse...

- Dois patinhos na lagoa! 22!
- Uhhhh...
- A boa! 51!!!
- ahhhh...
- É raso: 40!
- GrrrRrrRrRr!