segunda-feira, 26 de julho de 2010

...

- meus sentimentos..
- o semblante dele estava bom..
- ele está melhor do que a gente
- como que aconteceu?

eu nunca tinha estado no lado de cá. só no de lá. e descobri o quão desconfortável é tudo isso.
as melhores coisas que tenho recebido desde sexta-feira são abraços. e alguns sinais de que a pessoa está ali pra quando eu precisar. pronto. é isso que basta.

não adianta falar e falar e falar. nessas horas, não há O QUE se diga que melhore a situação. não, não há, não adianta.
inclusive, me deu vontade de sair correndo cada vez que ouvia explanações, teorias e conclusões sobre vida e morte.
nenhuma delas vai me fazer acreditar que é algo natural e que tinha que acontecer mesmo e que é a ordem das coisas e que é isso e aquilo.

vô, não podia ter esperado mais 24 horas? só 24. eu já teria voltado pra casa. teria falado com você horas antes. e não nove dias, por telefone, no seu aniversário.

eu, que me orgulhava de ter meus quatro avós.
numa dessas descobri que existem coisas muito difíceis de entender.
coisas que, sei lá, nunca vou entender. nem que eu viva mil anos. ou mil vidas.

por que tão rápido, vô?
porra.

porra de cidade longe.
porra de 300 quilômetros de distância.
porra de viagem mais longa da minha vida.

a pior de todas.

3 comentários:

Luís Fernando disse...

Meu pai morreu quando eu tinha acabado de começar a trabalhar na Folha, aqui em Ribeirão. Ele estava com leucemia. Quando ele ainda estava consciente, em um fim de semana que eu estava lá (eu ia praticamente em todos, o que me transformou em praticamente um PhD na nobre arte de andar de ônibus pelas estradas paulistas), eu ia ter uma segunda de folga justamente para fazer a entrevista em São Paulo, e não queria ir para ficar um dia a mais por lá. Ele disse: "Ah, que besteira, tem que ir sim", como se quisesse dizer "vai lá e deixe seu pai orgulhoso". No outro fim de semana, eu não fui para Prudente porque estava fazendo minha "mudança". No seguinte, ele já estava na UTI. Fui para lá me despedir. Espero que ele tenha me ouvido, embora digam que não. Voltei, e na terça-feira ele morreu. Não sei porque estou dizendo isso, acho que é só para você ver que não está sozinha. Adiantar mesmo não adianta nada, mas penso que é bem melhor que falar "tenha força, as coisas são assim, a vida segue..."

Maria Fernanda Ribeiro disse...

Quando o meu avô morreu eu estava em Piracicaba. Fiquei arrasada por pensar que tinha permanecido tão longe naquele ano e continuaria distante no seu enterro. Quando a minha avó morreu eu estava aqui em Ribeirão, nesta porra desta cidade longe. Lembro que era uma sexta-feira, e o plantão de sábado era meu. Minha mãe ligou e eu disse para ela: "estou indo." Levantei da minha cadeira, disse para o Mario que estava indo embora, fui do outro lado da redação e perguntei se alguém podia trocar de plantão comigo. Recebi um "claro, vai lá" da Gabriela. Peguei minhas coisas e fui embora. Este foi o dia de maior solidão na minha vida. Por ser mulher do chefe não recebi nenhum abraço dele e nem de mais ninguém desta cidade. Acho que também não queria e talvez eu mesma não tenha dado chance para isso. Como era o plantão do Mario, eu também estava sem ele no enterro, que só chegou no domingo. Depois de minha mãe ligar, sozinha, fui para casa, peguei o carro e enfrentei uma estrada horrorosa à noite. Só quando cheguei em Bauru e vi minha mãe, percebi que ela precisava mais de mim do que eu dela nesse momento e tive que permanecer forte. Mas lá, eu não estava sozinha. Morar longe é foda mesmo. Obrigada, aproveitei o seu post para desabafar.

Gláucia Santiago disse...

Porra! Chorei ó! Tbm tive esta sensação qdo meu avô morreu, de q não havia tido tempo de falar com ele...coisas q a gente só sente depois né?! Faz parte!
Força gata!
Bjaoooo