quarta-feira, 21 de julho de 2010

foi issaê

hoje, no meu e-mail, não sei como, encontrei meu memorial.
é um texto tão grande e tão chato, que se eu fosse você não leria.
só coloquei aqui para, daqui a seis meses, abrir de novo e perceber que algumas coisas não mudam.

e outras eu não aprendo. de jeito nenhum, eu acho.


"Mais de R$ 38.400,00 gastos. Mais de 2880 horas de aula. Mais de 72 “para de falar”, mais de 26 “ô tranqueira”, mais de 1500 “Marinas” nas aulas. E uns 93 “Marianas”, mas por engano.

Eu, que um dia já entendi melhor os números, hoje penso nesses – que devem ter uma margem de erro - em meio a pirâmides invertidas e queda do diploma.

Não lembro exatamente quando decidi que faria jornalismo. Sei que foi antes de entrar no colegial. Sétima, oitava série.
Minha família nunca foi contra. Nunca me disseram o que eu deveria escolher para seguir, teoricamente, pelo resto da minha vida. Me deixaram tentar o que eu quisesse. Mas talvez soubessem o que viria pela frente.
Prestei porque dizia que gostava de escrever, de falar e de ler.
- É, mas não é suficiente. Tem muito mais do que isso... – ouvi.
Muito mais. Eu acho que até sabia uma parte. E entrei na Faculdade com uma visão romântica do mundo. E do jornalismo. Não olhava a cidade procurando uma pauta. Via um mundo cor-de-rosa com alguns problemas. E queria mudá-lo. Achei que o jornalismo me ajudaria. É como disseram os Beatles, “we all want to change the world”.
Eu também queria mudar o mundo.

Mal sabia de linhas editoriais, de interesses publicitários ou de “dead line”. Mal sabia que apareceriam juntos, como uma tropa fortemente armada, prontos pra me derrubar!
Descobri aos poucos. E começo a entender como funciona.

No primeiro semestre de faculdade tive o primeiro contato com o lide. Aos trancos e barrancos, aprendi a lidar com ele. Lide com o lide, podia ser a primeira matéria da faculdade. E foi. Mas com um nome “mais acadêmico”: Introdução ao Jornalismo Impresso.
Ali eu pude perceber que, de fato, jornalismo não é só ler e escrever. É, principalmente, entender. Mesmo que nada haja de muito complexo em uma apresentação de jongo. Se você não entende, não escreve. E ninguém lê.
Dizem que a primeira vez a gente nunca esquece. E eu me lembro de cada passo naquele dia em que fiz a minha primeira matéria. Escrevi, reescrevi, reescrevi... E ainda assim ela não ficou boa. Mas nem eu esperava que ficasse.

Da minha primeira matéria para a última, muito passou. Entrei com 17, saio com 21.
Já fui chamada de desorientada, desnorteada, infantil, e até de Mariana. Cheguei a ouvir, no meio de tudo isso, que tinha amadurecido. E posso dizer que, de fato, mudei muito do primeiro para o último ano. Apesar dos pesares.
Em meio às incertezas do diploma e do futuro, até pensar em prestar vestibular de novo eu pensei. O que restou da tentativa foi a insistência no jornalismo. Além de pedir pro Ministério da Educação o dinheiro da inscrição do meu Enem de volta.

Posso dizer, também, que fiz muitas descobertas durante os quatro anos de Pucc. Do começo ao fim. No penúltimo semestre ainda consegui ter aula com quem eu nunca tinha visto pela universidade. Encontrei pessoas que me fizeram a diferença. Trabalhei. Ouvi teorias e mais teorias. Comentários e mais comentários. Li livros. Jack Kerouac, Haruki Murakami, Otto Groth, Chaparro, Edvaldo Pereira Lima, Cremilda Medina, Gabriel Priolli, García Márquez, Marshall McLuhan. Vi filmes. Quentin Tarantino, Eduardo Coutinho, Ingmar Bergman, os irmãos Cohen, Orson Welles, Charlie Kaufman, Fernando Meirelles.
Tantos nomes que rodearam a minha cabeça, que entraram aos poucos e que disputam espaço.

Se fosse para fazer de novo, faria. Exatamente como fiz. E-xa-ta-men-te. Com tudo o que disse, não disse, ouvi, não ouvi, fiz, não fiz e até com os problemas “políticos”. Não descarto qualquer experiência dos meus quatro anos de faculdade. É claro que não foi uma passagem perfeita. Foi cheia de defeitos e escorregadas. Mas, ainda assim, e por mais clichê que seja, foram os melhores anos dos meus 21.

Eu sei que não vou casar com o Selton Mello, trabalhar no The New York Times e entrevistar o José Saramago.
E é pra não me frustrar com as expectativas, que não faço muitos planos, contrariando a astrologia e os virginianos organizados. Prefiro pensar no futuro a curto prazo. E fazer uma coisa de cada vez.
No momento, minha meta é finalizar a faculdade.
E a única certeza seguinte é que a fiz para me tornar jornalista.
Não pretendo pendurar meu diploma na parede e seguir por um caminho completamente diferente.

É verdade que não sei o que vou almoçar amanhã, quanto mais o que de fato vai acontecer com a minha vida profissional nos próximos anos.
Mas, até onde eu puder guiar, será em direção ao jornalismo.

novembro/09"

3 comentários:

Gabriela Yamada disse...

É, não deu pra entrevistar o Saramago. Mas ainda dá tempo de casar com o Selton Mello e tentar o The New York Times.

Unknown disse...

A Gabriela roubou a piadinha que eu ia fazer.

Espero que com o tempo, no mínimo, você seja cada vez menos chamada de Mariana.

Maria Fernanda Ribeiro disse...

Sorte sua que faria tudo igual. Eu, se pudesse voltar no tempo, faria algumas coisas diferentes. Uma delas seria prestar mais atenção na aula de semiótica (era de sexta-feira à noite).